dezembro 30, 2011

Renovando as esperanças



O alvorecer do Ano Novo traz dúvidas e reflexões. Mas vamos apenas pensar em novas metas e desafios, esquecendo fracassos e frustrações para seguir em frente.
Hoje o tempo não existe. Apenas sonhos e esperanças. Por isto não tenha medo de sonhar “o sonho sonhado”. Planos precisam ser realistas, mas sonhos não. Alicerce da realidade, o sonho sempre transformou e continuará a transformar o mundo. É ele – o sonho – que alimenta a alma.
Impossível sonhar sem ter esperança. Ela é o combustível da vida. Ter esperança é confiar na vitória, mas também estar preparado para a derrota. Precisamos lutar sempre, pois como afirmou Victor Hugo, "a água que não corre forma um pântano, assim como a mente que não trabalha forma um tolo".
Quando desaparece, a esperança faz inútil a vida, pois o homem deixa de sonhar. As realizações alcançadas no ano que termina serão sementes, cuja colheita ocorrerá pelo sucesso no ano que se aproxima. Ele é como um livro em branco, cujas páginas serão preenchidas com a história de nossas vidas.
Deus nos dá o roteiro, mas a direção de nosso destino é responsabilidade nossa. Tudo no mundo se transforma e se renova. "Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio, porque as águas que passam dão lugar a outras águas", advertiu Heráclito.
Renovemos então nossas esperanças!

(Imagem: Flickr, do álbum de Anne Marie)

dezembro 24, 2011

Saudades de Laika



Em 22 de Março deste ano – e após pouco mais de uma década de convívio conosco – Laika, nossa cadelinha poodle, nos deixou. Em doze anos ela não apenas nos fez companhia, mas revelou fidelidade e amizade inigualáveis. Qualidades que – parece – nós, seres humanos, temos pressa em fazer desaparecer das relações com nossos semelhantes.
Ao escritor tcheco Milan Kundera se atribui a afirmação de que os cães “são como nosso elo com o Paraíso”, pois não conhecem “a maldade, a inveja e nem o descontentamento”. O autor de A Insustentável Leveza do Ser (1984) faria comparação com “uma volta ao Eden” o sentar-se, numa tarde, ao pé de uma colina ao lado de um cão. Ainda segundo Kundera, não fazer nada no Paraíso não seria tédio, mas paz.
Não nos é possível esquecer as brincadeiras de Laika. Nem suas lambidas em nossas mãos, quando queria subir em nossa cama e estar mais próxima de nós. Dócil no trato, Laika sugeria ternura e paz. Era comovente vê-la ainda tão fiel e amiga, mesmo depois de perder totalmente a visão. Gostava de música, e enquanto morria, uma lindíssima canção coincidentemente tocava na tevê.
Somente pela Fé podemos antever o que se seguirá ao término de nossa história pessoal. Mas seria consolador pensar que, de alguma forma, pudéssemos reencontrar não apenas as pessoas que amamos, mas também os animais de estimação que estiveram conosco. O cão que guia e defende seu dono cego, ou o que se sacrifica para salvar uma vida, vale a perene e grata lembrança humana tanto quanto, para nós, é inesquecível a de Laika. Ela fez mais que nos acompanhar durante parte de nossa caminhada: Laika nos alegrou, foi dedicada e fiel à nossa Casa. E, na sua docilidade e atenção, nos ajudou tantas vezes a superar momentos desfavoráveis.
Há quem diga que ser feliz é ter saúde, razão e um caso de amor. Para nós, ter uma cadelinha como nossa poodle Laika nos ajudou a ter um pouco mais de cada coisa.
(Imagem: Arquivo do autor)

dezembro 17, 2011

A presença de Deus




Ao contemplar o Universo, sentindo o orvalho caindo sobre a humilde relva, ouvindo o canto maravilhoso dos pássaros anunciando o alvorecer de um novo dia, o homem passa a acreditar que Deus existe. Não importa seus nomes – Jesus, Alá, Jeová, Krishna ou Buda. Todos se referem a um poder maior que qualquer um de nós.

A presença de Deus se faz notar na criação através do nada. Só Deus cria no vácuo, só Ele preenche vazios. Só Deus nos faz lembrar que a saudade é a presença de uma ausência. Deus é o Tudo no nada, a abundância na falta.

O filósofo iluminista Voltaire, que chegou a ser tomado por incrédulo, pregava que “uma falsa ciência faz tornar ateu, mas uma verdadeira ciência prosterna o homem diante de Deus”. Pouco antes de morrer em Março de 1778, aos 84 anos de idade, Voltaire declararia por escrito ter-se confessado a um sacerdote, pedindo-lhe o perdão divino por todas as suas faltas, sobretudo “se tenho escandalizado a Igreja.

O escritor Victor Hugo dizia que “Deus é o invisível evidente”. Ele está presente na incrível individualidade de todas as coisas, nada é igual no Universo. Deus é a essência da vida, presente nos diamantes incrustados nas rochas, nas pérolas invisíveis numa ostra marinha, no olhar distante do idoso e no riso angelical de uma criança.

Um belo texto da literatura celta explica a ação de Deus:

“Eu sou o vento que respira sobre o mar / Eu sou a onda do oceano / Eu sou o murmúrio das ondas / Eu sou o raio de sol / Eu sou o salmão na água / Eu sou o lago na planície / Eu sou uma palavra de sabedoria / Eu sou o Deus que faz o fogo na nascente”.

Finalizando: o que é Deus? Resposta de Rui Barbosa: 

“Deus é a necessidade das necessidades".

(Imagem: Flickr, do álbum de Phoenix Ocean)

dezembro 11, 2011

O todo no tudo



O homem busca freneticamente a felicidade desde os primórdios da civilização. Trata-se de uma busca que se tornou estéril, inútil, pois a felicidade não está em outro lugar senão escondida na alma humana. Eterno cativo, o homem é um prisioneiro incondicional de seus pensamentos.

Os cientistas estimam que possam nos ocorrer, diariamente, sessenta mil pensamentos em média. Alguns destes, destrutivos. Como o egoísmo e o medo – velhos habitantes da masmorra de nosso inconsciente.

A pior escravidão é a que existe em nós. Já houve tempo em que o homem não sabia o que queria. Hoje quer tudo. A Humanidade parece padecer de miopia mental e depressão cultural. Ouvimos o barulho das ruas, mas não escutamos a voz do coração. Olhamos a multidão, mas não enxergamos o semelhante ao nosso lado. O acúmulo de informações inúteis produz pouco conhecimento, e praticamente nenhuma sabedoria.

Precisamos encontrar o caminho da autolibertação e do autoconhecimento, o que só é possível pela meditação e contemplação. Cinco séculos antes de Cristo, Pitágoras ensinava: “Aprenda a ficar em silêncio. Deixe sua mente, tranquila, ouvir e absorver”. 

Você não precisa mudar o mundo, mas apenas a forma como o vê. Procure então ver o todo no tudo, ao invés de apenas fragmentos ilusórios da realidade humana. A cadeira em que V. está sentado, um dia foi semente e árvore. E teve que morrer, para que você possa desfrutar de seus benefícios. Mas, lembre-se: seja sempre humilde, como ensinava o autor de Tao Te Chinq – uma das obras fundamentais do taoísmo – , o filósofo e alquimista chinês Lao Tse,: “Todos os rios correm para o oceano porque ele é mais baixo que eles. A humildade lhe dá esse poder”.

(Imagem: Flickr, do álbum de Adrienne)

dezembro 04, 2011

Auto-estima



Único entre os seres capaz de atingir sua plenitude através do autoconhecimento, o ser humano tem na auto-estima a chave inevitável do sucesso. O filósofo e místico indiano Jiddu Krishnamurti (1895-1986) já advertira: “Que nada perturbe a vossa placidez – nada: nem aplausos, nem censuras, nem derrotas, nem sucessos”.

Posso evitar pessoas que conhecem minha verdade, mas não posso evitar a mim mesmo. Existe uma correlação entre “estar bem” e “fazer bem”. As pessoas que apresentam os melhores resultados no que fazem são, geralmente, aquelas que se sentem bem em relação a si próprias.

The Randon House Dictionary define auto-estima como “um grande respeito ou uma impressão favorável de si mesmo”. A auto-estima favorece a que eu seja a pessoa que quero ser. Posso escolher entre ser o senhor do meu destino ou um mero coadjuvante no teatro da vida.

Contrariamente ao que em geral se pensa, a auto-estima não é a valorização do ego, e sim o reconhecimento de que sou importante, apesar dos meus medos e das minhas fraquezas. É o respeito por quem sou, e não pelo que sou. O presente que recebo diariamente é a confiança em mim mesmo.

É necessário, pois, mudar a cada dia, pois se fizer sempre o que sempre fiz, terei sempre o que sempre tive. O pastor e conferencista norte-americano Roberto Harold Schuller escreveu certa vez que “qualquer pessoa pode contar o número de sementes de uma maçã, mas só Deus pode contar o número de maçãs em uma semente”.

(Imagem: Flickr, do álbum de alibubba)

novembro 27, 2011

A superação humana



Convidado a participar de um congresso de advogados em Brasília, cujo objetivo era debater o tema “O trabalho eficiente do deficiente”, fui surpreendido com depoimento que me comoveu. Relatando sua dura experiência de deficiente visual, um participante do evento declarou que após ficar cego é que passara “a enxergar a vida”.

Diariamente, milhares de pessoas, famosas ou não, nos dão exemplos maravilhosos de superação. Se não podemos evitar a queda, temos ao alcance de nossas possibilidades a corajosa atitude de “levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima”. O filósofo e escritor francês Jean-Paul Sartre já nos aconselhava a não darmos importância “ao que fizeram conosco, mas o que fizemos com o que fizeram conosco”.

Preso durante quase três décadas por liderar a luta contra o apartheid, Nelson Mandela contemplava a dança das estrelas no céu, através de um pequeno buraco em sua cela. Enquanto isso, sonhava com a liberdade de sua amada África do Sul. Depois que viu, afinal, seu sonho realizado, confessou ter sido sempre o dono de sua vida e o capitão de seu destino.

Cega e surda desde tenra idade, a escritora norte-americana Hellen Keller soube encorajar toda uma geração de deficientes ao proclamar que “a experiência humana não seria tão rica e gratificante, se não existissem obstáculos a superar”. E acrescentava: “O cume de uma montanha não seria tão maravilhoso, se não existissem vales sombrios a atravessar”.

(Imagem: Flickr, do álbum de janusz)

novembro 20, 2011

Conexões humanas



“A morte de cada homem me diminui, porque sou parte da humanidade. Portanto, nunca procure saber por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.

A famosa frase, do poeta inglês John Donne, pode ser uma demonstração de como é necessária a conexão humana.

Houve tempo em que o diálogo prevalecia entre as pessoas. Em Paris, no início do século 19, havia salões luxuosos onde pessoas se reuniam para discutir assuntos triviais e angústias de suas existências.

Hoje, quando o mundo se apresenta conectado e transforma a terra em aldeia global, o ser humano segue ‘desconectado’ da vida, do seu semelhante e até de si próprio. Os alegres bate-papos entre comadres, ou as conversas entre vizinhos, foram substituídos por encontros virtuais através das redes sociais na Internet. Onde, na maioria das vezes, as pessoas exibem, pretensiosamente, suas conquistas materiais.

Mas o verbo da conexão humana é o Ser, e não o Ter. Porque ele, o verbo, vem antes da verba. Às vezes isto não é fácil, pois em momentos de desespero costumamos trair nossos valores mais profundos, convictos de que é necessário ‘ter mais’. Nossa vida é movida por emoções que, por sua vez, não existem sem conexão com as pessoas, os animais – enfim com o mundo que nos cerca.

Cultive a amizade, faça conexões, e as portas da felicidade se abrirão para você. Porém não se esqueça de que a porta de saída abre-se para dentro.
(Imagem: Flickr, do álbum de Kahoota)

novembro 13, 2011

Lucrando com a vida



Certa vez, quando me preparava para iniciar palestra a empresários em Belo Horizonte, um senhor, já na terceira idade, me confessou ser financeiramente bem sucedido, ter uma família maravilhosa, mas que, no entanto, não era feliz. “Ainda não lucrei com a vida”, acrescentou.

Naquele momento compreendi sua angústia existencial. A felicidade parece ser a meta principal de todos, porém costumamos buscá-la por vias tortas. Queremos dinheiro, fama, sucesso – tudo para sermos felizes. Mas por que não buscar tão somente a felicidade? Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mateus 6,33). Em outro trecho da Sagrada Escritura, o apóstolo Paulo aconselha aos Colossenses (3, 1) que busquem “as coisas do alto”.

A felicidade é um estado de consciência que já existe em nós, porém encoberto pelas preocupações diárias. O filósofo estóico Epíteto, em sua obra Enchiridion, afirmava que “os homens não se perturbam pelas coisas que acontecem, mas por suas opiniões sobre as coisas que acontecem”.

Se você reage agressivamente no trabalho, então é o único perdedor. Agindo assim, você não apenas deixará de colaborar para que os outros melhorem, como tornará mais difícil a convivência naquele ambiente. Uma boa metáfora é a do rio: quando está cheio de lama, só conseguiremos beber sua água quando toda a sujeira for para o fundo.

Creio que aquele senhor se esquecera de que lucratividade e dinheiro são meios, e não fins em si mesmos. Dinheiro é o combustível que mantém em movimento o trem da vida. Mas para alcançar a verdadeira felicidade, não importa a que velocidade viaja esse trem, e sim o nosso crescimento espiritual durante a viagem.

Naquela noite, creio que o velho empresário tenha começado a descobrir que Deus e a Felicidade caminham juntos, e que Ele não existe nos bens materiais. Segundo um provérbio árabe, “Deus dorme nos minerais, acorda nas plantas, anda nos animais e pensa dentro de você”.

(Imagem Flickr, do álbum de Jude_Buffum)