Numa
época em que prevalecem os ditames da hipocrisia, da negação do princípios básicos
da Ética e da Moral, nossa sociedade convive – e às vezes até o estimula – com o
sentimento mais perverso da pessoa humana: a humilhação de seus semelhantes.
Tal fato se faz notar através do culto à beleza física e ao acúmulo de bens
materiais. Procuramos saber os custos, mas nunca o valor das coisas.
O
modo de produção adotado pelo sistema capitalista, na visão de Marx, e a
formação da sexualidade humana, analisada por Freud, nos levam a concluir que a
raça humana está inevitavelmente condenada a um processo contínuo e permanente
de humilhação. Segundo as teorias elaboradas pelos gênios citados, esta seria a
verdadeira humilhação social. Ela atinge, de forma cruel, os pobres e as
pessoas desprovidas de beleza física.
O
poder de humilhar é atributo exclusivo do ser humano. Nas palavras de Gandhi, o
que mais impressiona nos fracos “é que eles precisam de humilhar os outros,
para se sentirem fortes”.
Embora
seja praticamente impossível explicar a satisfação pessoal da pessoa que
humilha, uma das razões para tal ato talvez seja a presença de várias pessoas
dentro de nós, lutando entre si: um animal em fúria, uma criança a correr pelos
campos verdejantes, ou apenas um observador com um coração de ouro.
O
que humilha, carrega consigo numerosos índices da “pobreza no ser” que se
manifestam em todas as direções. Como na incapacidade de amar, de aceitar a
diversidade dos outros, de ser totalmente autêntico e completamente feliz. A
humilhação fere mais que uma agressão física, pois atinge diretamente a alma
humana. O humilhado se sente discriminado, diminuido e solitário em sua agonia
existencial.
Hoje
vivemos em uma sociedade de riscos, onde tudo é efêmero e transitório. Onde
prevalece a amizade virtual em detrimento da conexão humana, permanente e
duradoura. Seguindo as palavras sábias de Schopenhauer, nossa sociedade “é tão
indigente quanto indulgente”. Carregamos muito peso inútil, largamos pelo caminho
objetos que poderiam ser preciosos enquanto recolhemos inutilidades.
Vítimas da humilhação, tornamo-nos mais fortes.
Afinal, nunca recebemos uma fardo maior do que podemos carregar.
(Imagem: Flickr, do álbum de Simon Brader)