Só
nos tornamos adultos no dia em que aceitamos totalmente as responsabilidades de
nossas vidas. A pessoa responsável é aquela que aceita o que existe, escolhe
enxergar o copo cheio pela metade. A vítima sempre prefere enxergá-lo metade
vazio.
Para
crescer precisamos tanto da chuva quanto do sol. A dor da perda nos parece
incompreensível. Ver e escutar parece tão simples, e no entanto nossa
interpretação nos leva a escutar e enxergar em função do que, acreditamos,
deveríamos enxergar e escutar. Nós queremos sempre uma coisa diferente do que
existe. Acreditamos que a felicidade está em outro lugar, e por isso as
tristezas e as perdas não encontram respaldo em nossa forma de ver a vida. Precisamos
entender que ela é um constante processo de mutação, uma transformação
contínua, um nascer, morrer e renascer para a eternidade.
Para
Schopenhauer, “a vida é um sonho e a morte, o despertar”. Talvez a mais bela
metáfora sobre a vida seja sua analogia com uma viagem de trem. Ao nascer
embarcamos no trem da vida, com um só bilhete de ida. No primeiro banco
encontramos nossos pais e nossos irmãos. Com o decorrer da viagem, novos
passageiros passam a nos fazer companhia – nossos cônjuges, filhos, amigos,
etc. Com o fluir do tempo, novos passageiros vão embarcando, enquanto outros
descem na derradeira estação da existência. Pela janela podemos
vislumbrar belos e maus momentos do cotidiano.
Muitas
vezes gostaríamos de não enxergar as tristezas da Humanidade. Domingo passado
notei, ao acordar, que o dia estava lindo. Todos estávamos alegres,
reverenciando as maravilhas da Criação. Súbito, olhei para o primeiro banco e
dei pela falta de meu querido pai, que havia desembarcado sem se despedir de
nós. Minha tristeza foi ainda maior ao perceber que aquele banco ficará vazio
para sempre, pois minha mãe e meu único irmão já se foram há anos. Senti uma
dor e uma desolação profundas. Mas constatei que em outros assentos do trem da
vida, há pessoas maravilhosas, que me ajudarão nos resto da viagem. Minha esposa,
meus filhos, minha netinha e meus amigos. Ocorre-me que o sofrimento é
tolerável, se não tivermos que enfrentá-lo sozinhos.
A
maioria do que possuimos não encerra um significado em si. Na verdade, são muito
para nós a partir do que representam. E isto é nosso para sempre.
Obrigado,
Pai!
(Imagem: Flickr, do álbum de Leo Druker)