Urge,
inadiavelmente, que se promovam mudanças não só estruturais, mas também conceituais
nas relações que regem o trabalho humano.
Até
o advento industrial, o trabalhador dedicava seu labor à criação individual.
Nela estava presente seu coração e sua alma. Era então que, como nunca, o
artesão se aproximava do artista. Praticamente havia sempre um toque de poesia
em cada peça trabalhada.
Atualmente,
a maioria da classe operária investe todos os seus sonhos e energias numa
carreira, que nem sempre é a preferida. O trabalhador passa a maior parte do
dia em seu local de trabalho, sob pressão de uma competição injusta e desumana.
Reduz-se então seu gosto pelo lazer, surge o desinteresse pelo núcleo familiar.
Enfim, o desgosto pela vida.
Creio
que o avanço tecnológico, aliado a um grau superior de cultura, não serviu para
alterar o pensamento preconizado por Oscar Wilde: “Vivemos numa época em que as
pessoas são tão trabalhadoras que ficam estúpidas”.
O
ambiente de trabalho, a par de todo modernismo, está embrutecendo o espírito
humano. De forma objetiva, constatamos que está faltando ‘coração’ no trabalho.
Já não existe companheiro, mas adversário. As atuais formas de produção são
executadas de modo alienante, o trabalhador fica impedido de pensar, criar, transformar. Enfim,
de exercer sua plena capacidade humana.
O
dualismo comportamental do trabalhador é questionado através dos tempos. Henry
Ford advertia: “Quando trabalhamos, devemos apenas trabalhar”. Isto, de certa
forma, considerava abolida a alegria na labuta. Para Marx, entretanto, o
trabalho, a criatividade, o divertimento e a vida deviam ser uma coisa só.
Apesar
de todo o desconforto e mal-estar, o trabalho deve ser executado com alegria e
altivez. “Se lhe pedirem para ser um varredor de ruas, varra as ruas como Michelangelo
pintava, como Beethoven compunha, ou como Shakespeare escrevia. Varra as ruas
tão bem, que todos os anjos do céu e da terra façam uma pausa para dizer: Aqui
viveu um grande varredor de ruas que fazia bem o seu trabalho” (Martin Luther
King).