abril 29, 2012

Relações de Trabalho no Brasil



Insegurança jurídica, postos de trabalho mantidos a custos muito altos, legislação trabalhista ultrapassada e uma estrutura sindical viciada pela origem no arbítrio e no autoritarismo – eis a realidade que marca as relações de trabalho no Brasil e desestimula investimentos no setor produtivo, desde que isto signifique contratar mão-de-obra.

Não  pode haver dúvida, a partir de uma visão responsável, de que estamos sobre o já legendário barril de pólvora, cuja  explosão ainda é providencialmente retardada. A violência urbana devasta nas grandes cidades brasileiras algumas vezes mais do que fazem as guerras. E boa parte de suas vítimas tem sido trabalhadores, gente honesta, contribuintes que pagam seus impostos para reduzirem o risco de viver trancando-se em suas próprias casas. Nossa indiferença pelos excluídos nos faz cúmplices dos governantes nesse crime que é o descaso social.

O jornalista Eduardo Lara Resende, em seu blog Pretextos-elr (http://pretextoselr.blogspot.com), discorreu sobre o assunto aqui tratado com muita propriedade ao afirmar: “Apesar do extraordinário volume de informação hoje disponível, seguimos preparando nosso futuro. Pelos dados conhecidos, boa parte dos patrões ainda insiste em ignorar o óbvio: não é apenas a técnica gerencial ou de mercado que determina o sucesso de uma empresa. A diferença está, essencialmente, na fé e na dedicação com que as pessoas se entregam á realização de seus sonhos através do trabalho. E isto envolve confiança, incentivo e, sobretudo reconhecimento”.

O discurso é velho, gasto e, para muitos ouvidos, por vezes impertinente. Mas paradoxalmente atual e verdadeiro: é necessário apressar tanto quanto possível os passos da sociedade em direção a horizontes que valorizem o homem e que o engrandeçam não apenas econômica, mas também – e sobretudo – moralmente. O nome do que se opõe a essa conveniente malevolência é cidadania. 

Mudanças profundas na legislação trabalhista e fortalecimento dos sindicatos – ainda indispensáveis representantes de patrões e empregados, verdadeiros fiéis da balança numa relação trabalhista plena de desafios – eis o que nos será necessário fazer para dar inicio a nova etapa nas relações de trabalho no Brasil.

(Imagem: Flickr, do álbum de leroycommunitychapel)

abril 21, 2012

A escravidão moderna



A  Sociedade contemporânea vive escravizada pela tirania dos poderes, da mídia, do sujeito coletivo, das corporações, do Estado desumano e da teoria do senso comum. O escritor norte-americano Duncan Watts nos ensina como o senso comum nos engana: “(...) Em outras palavras, o senso comum não é tanto uma visão do mundo quanto é um saco de crenças logicamente inconsistentes, por vezes contraditórias, cada qual parecendo apropriada em um momento, mas sem garantias de que estará certa em qualquer outro instante”.

A escravidão moderna pode ser descrita como uma “servidão voluntária”, na qual a sociedade atual aceita e se submete às regras de dominação total sobre seus corpos e mentes. De forma diversa dos escravos da antiguidade, da Idade Média, e dos operários do início da Revolução Industrial, os escravos modernos não enxergam a sua própria desgraça. A resignação faz parte de sua vidas.

Mostrar a realidade tal qual é – ou seja, uma verdade – e não tal como a mostra o Poder, constitui a mais autentica forma de subversão. O homem moderno está subjugado a um trabalho alienado. O trabalhador atual não é treinado, mas adestrado. Não cria, não pensa, é um verdadeiro robô humano.

As residências hoje em dia assemelham-se a jaulas, prisões e cavernas. Fato descrito por Antonin Artaud: “Porque não é o homem, mas o mundo que se tornou um anormal''. Neste lugar sombrio, uma parcela ínfima da Humanidade acumula riquezas, em detrimento da vida e da felicidade. “Pois que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma?” (Marcos, 8;36).

Morremos pelo excesso e pela escassez de alimentos. Estamos destruindo o meio ambiente, tornando a Terra em verdadeiro sepulcro da civilização humana. Olvidamos o pensar de Victor Hugo: “Que triste é pensar que a natureza fala e que a espécie humana não a escuta!".

Somos escravos de qualquer modismo, e naufragamos no consumo frenético. Precisamos trabalhar sempre mais, precisamos gastar sempre mais, precisamos nos vender sempre mais. Por isso nos alegramos menos, amamos menos, vivemos... menos. A humilhação faz parte de nossa sobrevivência. Nas empresas, o relógio de ponto substituiu a chibata. Hoje o trabalho, seja manual ou intelectual, é sempre repetitivo, sem a emoção criativa que diferencia o homem dos demais animais.

Para mudarmos essa situação devemos seguir os conselhos descritos em poema do irlandês Louis MacNeice: “Se algo é viável, obtenível, vamos sonhar com isto agora/E orar por uma terra possível.../Onde os altares do mero poder e do lucro caíram em desuso/Onde ninguém vê a vantagem de comprar dinheiro e sangue ao preço de dinheiro e sangue/Onde o indivíduo, não mais consumido pela autoconfiança, trabalha com o resto...”.

(Imagem: Flickr, do álbum de Hiking Artist.com)

abril 15, 2012

Ser ou não ser





Vivemos numa sociedade permeada por muita informação, pouco conhecimento e, praticamente, nenhuma sabedoria. O ser humano vive atormentado pela dúvida existencial, preconizada pela imortal indagação filosófica de Shakespeare: “Ser ou não ser, eis a questão”.

Somos cidadãos transbordados vivendo em uma sociedade transbordada. Por isso, todos os dias lutamos para não naufragar. E essa sensação nos desgasta. Ela nos afasta do propósito de sermos felizes.Na incerteza, devemos nos entregar incondicionalmente ao inevitável.

Devemos abandonar a incerteza e não a dúvida. Ela dúvida sempre vai existir, pois nos leva à procura da verdade. Não houvesse dúvida e não haveria ciência ou razão. Na incerteza, tomemos o caminho do abandono, que é a renúncia à pretensão de controlar tudo.

Coloquemos nas mãos do universo, da vida, aquilo que não está em nossas mãos. O abandono é uma atividade vital, não uma covardia ou derrota pessoal. Não renunciamos à vida, renunciamos a forçá-la – opinião como a do filósofo Sêneca. Para ele, a sabedoria está em discernir corretamente entre até onde podemos modelar a realidade para ajustá-la aos nossos desejos, e até onde devemos aceitar, com tranqulidade, o inaceitável.

A verdade é que a incerteza faz parte da natureza humana. Por isso, será sempre melhor agir com cautela e serenidade . Nas palavras do filosofo Immanuel Kant, “a inteligência de um indivíduo é medida pela quantidade de incerteza que ele é capaz de suportar”.

Precisamos decidir o que queremos ser, pois no dizer de Arthur Schopenhauer, “não há nenhum vento favorável para aquele que não sabe para onde vai”.
 
(Imagem: Flickr, do álbum de SamyColor)

abril 07, 2012

Autoconhecimento



Em seu processo de desenvolvimento, o homem passa por fases em que concentra a atenção em si próprio como indivíduo, considera importante investir em suas capacidades e potencialidades e julga-se no dever de desenvolver aquilo que é. É a fase em que encontra sentido na realização como indivíduo, que é um desabrochar integrado do que é potencialmente, tendo como centro e critério o seu próprio eu. È quando a sensação de vazio interior e de falta de sentido afloram, influenciando seu modo de sentir e pensar. Então nos perguntamos como tocar a vida adiante.

Quando isto se dá, é chegado o momento de determinarmos onde nos encontramos e onde queremos chegar. O caminho torna-se mais difícil se carregamos bagagens pesadas do passado. A vida é sempre uma aventura.

Voltaire, escritor e filósofo humanista, comparou a vida a um jogo de cartas. Os jogadores devem aceitar as cartas que lhes foram dadas. No entanto, uma vez com elas em mãos, somente eles é que decidem que riscos correr e ações praticar.

Somos prisioneiros de nossos pensamentos. Grilhões que não podem ser removidos, mas podem ser substituídos pela liberdade de escolha de nosso próprio caminho. E na estrada da vida, o caminho mais difícil a ser percorrido é o que nos conduz a nós mesmos.

Hoje, resignar-se à mediocridade tornou-se estilo de vida. Pois no dizer de Shakespeare, “sabemos o que somos, mas não o que podemos ser”. E apenas o conhecimento não é suficiente. Só a compreensão do tudo e do todo permite a realização que nos levará onde desejamos.

Para ter tudo é preciso aceitar perder tudo. A conquista do autoconhecimento, foi louvada nessas belas palavras do guru indiano Osho: “O esplendor de uma pessoa que descobriu tudo o que se passa dentro dela é extraordinário porque, ao se tornar consciente, tudo o que é falso desaparece, tudo o que é real desabrocha. Exceto isto, não existe nenhuma transformação radical possível. Nenhuma religião pode lhe dar isto, nenhum messias pode lhe dar isto. É presente que você tem que se dar”.

(Imagem: Flickr, do álbum de - Teddy)

abril 01, 2012

O Trabalho e o mundo atual




Quando a indústria surgiu, os seres humanos trabalhavam em suas próprias cidades, em seus bairros, em suas próprias casas. Então, locais de produção se distanciaram dos locais de reprodução. Separaram-se pais e filhos, maridos e mulheres. Afrouxaram-se laços familiares. Creio mesmo que muitas disfunções atuais da família, da sociedade e dos indivíduos decorram desse divórcio entre trabalho e vida, imposto pelo modelo de produção industrial.

Embora mudanças na organização empresarial e nos locais de trabalho tenham acontecido com o passar do tempo, elas jamais harmonizaram trabalho e modo de vida dos trabalhadores. Essa separação, muitas vezes dolorida e que ajudou a destruir famílias, comunidades e personalidades, estava e ainda está presente na estrutura e na cultura da maioria das empresas modernas. Não há como negar, no entanto, que conquistas sociais e tecnologia contribuíram para a melhoria na humanização do trabalho.

Mas o progresso na área trabalhista fez surgirem, paradoxalmente, novos desafios ao trabalhador nos dias atuais. O desemprego e a competitividade feroz, impostos por administradores retrógrados, acarretam tormento e infelicidade no campo profissional. Os que buscavam, com a labuta diária,  o equilíbrio entre dever e lazer, prolongando assim a vida, hoje se deparam com a depressão, o stress e, não raro, com a alienação mental e espiritual.

É preciso repensar, com urgência, a organização pós-industrial. Ir além da oferta de pacotes de minoria acionária, ridículas participações nos lucros ou automação nos escritórios – recursos que tantas vezes não passam de fragmentos ilusórios, migalhas que não sustentam o trabalhador em seu duro cotidiano.

Quando as organizações respirarem, a chaga que divide trabalho e vida cicatrizará, aplacando mágoas e desilusões com o trabalho. Aí, sim, valerá a pena concluir como Emerson: “A suprema sabedoria é esta: que não é tempo perdido, o tempo dedicado ao trabalho.” 

Já se disse  que “quem é mestre na arte de viver, mal distingue entre o seu tempo de trabalho e o seu tempo livre”. Mais do que investir na geração de novos empregos e na manutenção dos postos de trabalho, precisamos defender o trabalho em si – seja ele autônomo, voluntario ou independente. Porém, sempre justo e humano.

(Imagem: Flickr, do álbum de  mayte_pons)