Quando a indústria surgiu, os seres humanos trabalhavam em suas próprias cidades, em seus bairros, em suas próprias casas. Então, locais de produção se distanciaram dos locais de reprodução. Separaram-se pais e filhos, maridos e mulheres. Afrouxaram-se laços familiares. Creio mesmo que muitas disfunções atuais da família, da sociedade e dos indivíduos decorram desse divórcio entre trabalho e vida, imposto pelo modelo de produção industrial.
Embora mudanças na organização empresarial e nos locais de trabalho tenham acontecido com o passar do tempo, elas jamais harmonizaram trabalho e modo de vida dos trabalhadores. Essa separação, muitas vezes dolorida e que ajudou a destruir famílias, comunidades e personalidades, estava e ainda está presente na estrutura e na cultura da maioria das empresas modernas. Não há como negar, no entanto, que conquistas sociais e tecnologia contribuíram para a melhoria na humanização do trabalho.
Mas o progresso na área trabalhista fez surgirem, paradoxalmente, novos desafios ao trabalhador nos dias atuais. O desemprego e a competitividade feroz, impostos por administradores retrógrados, acarretam tormento e infelicidade no campo profissional. Os que buscavam, com a labuta diária, o equilíbrio entre dever e lazer, prolongando assim a vida, hoje se deparam com a depressão, o stress e, não raro, com a alienação mental e espiritual.
É preciso repensar, com urgência, a organização pós-industrial. Ir além da oferta de pacotes de minoria acionária, ridículas participações nos lucros ou automação nos escritórios – recursos que tantas vezes não passam de fragmentos ilusórios, migalhas que não sustentam o trabalhador em seu duro cotidiano.
Quando as organizações respirarem, a chaga que divide trabalho e vida cicatrizará, aplacando mágoas e desilusões com o trabalho. Aí, sim, valerá a pena concluir como Emerson: “A suprema sabedoria é esta: que não é tempo perdido, o tempo dedicado ao trabalho.”
Já se disse que “quem é mestre na arte de viver, mal distingue entre o seu tempo de trabalho e o seu tempo livre”. Mais do que investir na geração de novos empregos e na manutenção dos postos de trabalho, precisamos defender o trabalho em si – seja ele autônomo, voluntario ou independente. Porém, sempre justo e humano.
(Imagem: Flickr, do álbum de mayte_pons)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Grato pela sua visita e comentário.