maio 27, 2012

A volta por cima



Ao contrário dos animais irracionais que possuem a capacidade de avaliar e usar todas as suas forças, o homem desconhece – e acaba subestimando – sua própria capacidade, vivendo eternamente a ilusão falsa das aparências. Tal situação de desprezo pela sua própria existência o torna um coadjuvante no espetáculo da vida. É um miserável perdido no meio das maravilhas do universo. Mas, como afirmam Rosete Poleti e Bárbara Dobbs, “ninguém é tão machucado pela vida a ponto de ser definitivamente esmagado”.

Neste momento de extrema amargura e sofrimento, de acordo  com o renomado  psicólogo  Vanistendael, “algumas pessoas reagem de forma extraordinária, demonstrando uma capacidade de vencer , viver, desenvolver-se positivamente,  de maneira socialmente aceitável, apesar do estresse ou uma adversidade que normalmente  comportam o grave risco de uma saída negativa”.

Infelizmente esse grupo de indivíduos é pequeno, pois a maioria carrega dentro de si ditames que foram programados por nossos professores, nossos colegas e nossos pais, levando-nos  a acreditar que éramos apenas crianças medianas e comuns. Desta forma, estávamos condenados à mediocridade.

Entretanto, a verdade é que somos criados como jóias singulares. Jamais existiu ou existirá no mundo uma máquina mais maravilhosa do que a máquina humana. Somos feitos de cem trilhões de células, seiscentos e quarenta músculos, duzentos ossos, um coração que realiza dois bilhões e meio de batidas ao longo da vida, um esqueleto que se regenera cinco vezes e um cérebro que é capaz de realizar bilhões de conexões diferentes. Somos únicos, e o que muda é nossa embalagem – o corpo. Alguns até semelhantes, mas todos com uma alma diferente.

O ser humano é um maravilhoso organismo capaz de perceber eventos, formular juízos complexos, amar e ser amado. Contudo vive o dualismo presente em todo o Universo, dividido pela dicotomia do bem e do mal .È capaz de sacrificar sua própria vida para salvar seu semelhante, assim como pode matar pelo simples prazer. A incerteza está presente em nossas  vidas mais do que a certeza. Mas nós a julgamos mal, ainda não percebemos que a incerteza é o estado natural do ser humano. Durante todo o tempo procuramos tempo para não ter tempo.

Precisamos encontrar uma razão para ter esperança. E essa razão está presente na resiliência, um adjetivo que pode ser definido como aquilo que apresenta uma resistência a qualquer tipo de choque ou atrito, aquilo que bate e volta, inclusive nos reveses da vida. A resiliência é a verdadeira arte de dar a volta por cima.

(Imagem: Flickr, do álbum de Antonello!)

maio 19, 2012

Paradoxo do nosso tempo




Duas reflexões vão ao encontro de nosso tema: a primeira, do escritor Reinaldo Azevedo, para quem “nossa civilização parece a improvável história de um paradoxo permanente. Ela avança, sempre duvidando de si mesma, mergulhando às vezes no horror, mas se recuperando em seguida para a maravilha”.

A segunda afirmativa é feita pelo Dr. José Augusto Messias, médico e humanista, professor da Universidade do Rio de Janeiro- Ele nos diz que “o mundo em que vivemos é o melhor momento já vivido pela historia para toda a Humanidade, incluindo os mais desfavorecidos”.

Em contraponto, há uma idéia de que nosso tempo é o pior que já existiu ao longo dos tempos. Diz-se que vivemos em plena crise de valores, e que o futuro será ainda pior. Exemplo de extrema perversidade foi protagonizado, há quase duas décadas, pelo então chefe do Banco Mundial e ex-conselheiro econômico  do presidente Barack Obama, Lawrence Summers. Ele redigiu e assinou memorando sugerindo que faria sentido os países ricos exportarem seu lixo para os países pobres, pois eles sofreriam menos perdas se os trabalhadores ficassem doentes ou morressem. “Creio que a lógica econômica por trás do despejo de lixo tóxico nos países de salários mais baixos é impecável e deveríamos enfrentar a questão”, afirmava.

“O raciocínio é perfeitamente lógico, mas totalmente insano”, escreveu o falecido José Lutzenberger, grande visionário no campo da proteção ao meio-ambiente. Summers pediu desculpas pelo seu ato de desprezo pela pessoa humana.

A despeito de todo sofrimento atual, podemos afirmar que somos mais felizes hoje do que ontem. Diversos fatos justificam essa afirmativa: nunca o ser humano gozou de tanta longevidade nem chegou à velhice com tanta saúde, dispondo de tantos recursos médicos e sanitários. Evoluímos em quase todas as esferas da vida – na política, na economia, nas relações sociais e trabalhistas, na higiene e até mesmo na gastronomia. Hoje são cultivadas novas virtudes como a solidariedade e a compaixão, porém não mais com uma raiz apenas religiosa, mas sim moral e social.

Cresce o respeito pelas minorias e pelos excluídos. Não só pelos direitos das mulheres e das crianças e idosos,  mas também pelos direitos dos animais e de todos os seres vivos. Hoje as religiões convergem para um fim comum.O fundamentalismo islâmico é minoria, e parece dar sinais de uma modernização urgente.Nunca o homem foi tão poderoso, para o bem e para o mal. Em todo caso, não há dúvida de que somos, mais do que nunca, senhores da vida e da História.

(Imagem: Flickr, do álbum de eye2eye)

maio 12, 2012

O sentido da Vida




Desde os primórdios da civilização, o homem busca um sentido para sua existência. Busca que esbarra sempre nos aspectos trágicos da vida humana. O poeta e escritor  Rainer Maria Rilke nos advertia: “Quem não aceitar a tragicidade da vida através de uma resolução definitiva, a ponto de aclamá-la, jamais entrará na posse dos inefáveis poderes da nossa existência. Ao contrário, ficará à deriva e terá sido, no momento decisivo, nem vivo nem morto”.

Decididamente, devemos extrair dos pontos negativos da vida, motivação para que nos transformemos e evoluamos através do autoconhecimento. Nessa longa e estranha jornada a que chamamos vida, encontramos muito, mas, sobretudo, encontramos a nós mesmos. Descobrimos quem realmente somos.

Em meio ao mistério que é a vida, recebemos tudo que precisamos para administrá-la e encontrarmos a verdadeira felicidade.  Não falo da felicidade ilusória dos ganhos materiais e do frívolo sucesso, mas de uma vida autêntica e plena de significado. Devemos nos lembrar que em cada momento, há sempre um ponto de transição entre o conhecido e o desconhecido. O conhecido é o passado, apenas uma lembrança que não volta jamais. O desconhecido é o campo de nossas possibilidades, é fator ilimitado e livre para a procura de todas as verdades.

Para sermos bem sucedidos na construção da vida de nossos sonhos, precisamos ter os talentos certos e a determinação para conseguirmos o que desejamos. Sempre precisaremos acreditar em nós mesmos. Não importa a opinião alheia, precisamos de uma força interior, de auto-estima, de autoconfiança e, principalmente, de autoconhecimento.

Nesse aspecto, os filósofos estóicos  nos mostraram um caminho. Epíteto, o escravo, disse: “Não espere que as coisas aconteçam  como você quer, mas que aconteçam como acontecem, e você será sempre feliz”. E ainda acrescentou: “Por  isso, se você quiser ser livre,  não deseje nada ou fuja  do que depende dos outros, senão você será sempre  escravo”.

Certo estava o filósofo, pois a pior escravidão é a que nasce dentro de nós. O verdadeiro sentido da vida está no equilíbrio entre as possibilidades e as necessidades. O pobre tem poucas possibilidades e muitas necessidades, mas o rico padece de muitas possibilidades e às vezes nenhuma necessidade, carecendo até de motivação para viver.

(Imagem: Flickr, do álbum de (Edu)Eduardo Oliveira)

maio 05, 2012

Heróis de verdade


Grandes homens e mulheres transformaram-se, pelo seu exemplo, em  verdadeiros heróis da história humana. Foram modelos raros de justiça, moral e de qualidades admiráveis tanto quanto é possível ser. Tal herança de sabedoria e dignidade deve ser compartilhada, pois isto é mais que um direito: é um dever que se impõe a todo homem de boa vontade. “A sabedoria é tão boa como uma herança, e é de proveito aos que veem o sol”, diz o livro do Eclesiastes (7, 11).

O maior exemplo de liderança e heroísmo é o de Jesus Cristo, pois Ele foi e ainda é capaz de influenciar bilhões de pessoas sem utilizar de poder para tal. Para isto, sua influência e liderança têm por base o serviço, pois é preciso, essencialmente, servir para que as pessoas sintam que você se impõe a elas.

Gandhi também foi excepcional modelo de líder, um grande homem de 1,60m e que pesava pouco mais de 50 quilos. Foi ele quem disse que serviria com a sua própria vida a uma causa como independência da Índia, porém sem recorrer à violência para alcançar seu objetivo.

Milhares de outros exemplos que doaram suas vidas em beneficio da humanidade foram esquecidos pela Historia e pela mídia, que prefere heróis de fantasia e nos iludem quanto à compreensão do que seja justiça e verdade. Trago aqui alguns nomes que honraram e dignificaram suas passagens pela Terra: Tomas Merton, monge nascido em 31 de janeiro de 1915 em Prades, interior da França, e falecido em 10 de dezembro de 1968. Esse grande monge ativista se perguntava o que poderíamos “ganhar navegando até a lua, se não conseguimos atravessar o abismo que nos separa de nós mesmos”. Para Merton, essa é “a mais importante de todas as viagens de descoberta, sem a qual todo o resto não é apenas inútil, mas desastroso”.

Thomas Merton afirmava ainda que “uma vida é totalmente espiritual, ou não é espiritual de forma alguma. Homem algum pode servir a dois senhores. Sua vida é moldada pelo objetivo para o qual você vive, pois você é feito à imagem daquilo que deseja”.

Outro ser iluminado é o poeta libanês Kahlil Gibran – imortal escritor e autor de livros como O Profeta. Gibran é o poeta da alma, e dele são estes pensamentos finais: “Seu vizinho é seu outro eu que mora do outro lado de um muro. À compreensão, todos os muros cairão”.

“A fé é um oásis no coração que nunca será alcançado pela caravana do pensamento”.

“Mantenham-me longe da sabedoria que não chora, da filosofia que não ri e da grandeza que não se curva diante das crianças”. 

Essas pessoas humanas, como eu e você, são nossos heróis de verdade.

(Imagem: Flickr, do álbum de Craig Goode Design)