outubro 06, 2012

Tempos idos e vividos




Cinquenta textos publicados após o início deste Portal do Autoconhecimento, chego a uma etapa em que é inevitável olhar para trás. Transpondo a barreira do primeiro artigo, intitulado A vida e com o qual inaugurei este blog, vou um pouco além, talvez seduzido pela letra da canção que há tempos apregoava que recordar é viver.

Hoje eu diria que evocar o passado é prestar contas de nossa existência. As lembranças não são vãs, o passado aprisionado em nossa mente é depositário de um filme imaginário que registra nossa caminhada terrena.

Creio ser um privilégio viver em dois séculos, em dois milênios. Nasci em 1949, poucos anos após o término da Segunda Guerra Mundial. Vim ao mundo numa época de sonhos e esperanças, de personalidades como Charles Chaplin, Winston Churchill, Carl Gustav Jung e outros líderes da Humanidade – todos então em plena atividade.

Aos dez anos de idade eu morava na serra de Nova Friburgo, em um pequeno lugarejo encravado na mata. Ali não havia luz elétrica e – até em conseqüência – qualquer outro tipo de conforto moderno. Mas era maravilhoso tomar banho no riacho de águas cristalinas, sobre cujo leito, forrado de pedrinhas coloridas, era possível apreciar o ir-e-vir dos peixes. E tudo isso sob a vigilância de alegres esquilos, que chamávamos caxinguelês.

Insisto ainda em lembrança rápida e revejo meu pai, Chefe da Estação Ferroviária, nossa moradia. Fascinava-me aquele ‘cavalo de ferro’ fumegante nas madrugadas frias, fazendo tremer nossa casa em sua passagem.

Chego então ao meu primeiro contato com o mundo literário, através de Meus Verdes Anos, de José Lins do Rêgo, e Urupês, de Monteiro Lobato. Aos quinze anos de idade, após ler Dom Quixote, escrevi um poema só com a letra C, intitulado Cervantes Continua Caminhando.

Do rádio me veio a paixão pelo futebol. Os locutores narravam as partidas com tanta emoção que, em criança, era fácil imaginar o estádio em nossa sala. Acompanhar todas as Copas do Mundo vencidas pelo Brasil, ver Garrincha, Pelé, Zico e tantos outros craques jogarem foi, para mim, um presente de Deus.

Vi nascer a televisão, o homem caminhar na Lua, o conhecimento desbravado via Internet. A tudo reputo dádiva divina, não concedida a todos. Tive a honra e a graça de conhecer e manter alguns encontros com Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, Arcebispo de Mariana, falecido em 2006 e autor do prefácio de meu livro Cativos na Liberdade. Apertei mãos dignas como as de Dom Helder Câmara, Paulo Freire e Florestan Fernandes.

No texto em que dei partida a esta série, falei do sofrimento, de onde tantas vezes nos vem a energia para prosseguir. Se, nestes doze meses de caminhada, tive tropeços pela dor de perdas como a de meu pai, por outro lado não me faltaram forças e estímulo tão necessários ao re-erguimento, à retomada do caminho. Há horizontes, ainda.

Confesso, então, que a vida vale mesmo a pena.

(Imagem: Flickr, do álbum de globalrain)

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