Segundo
o IBGE, o Brasil tem mais de 16 milhões de pessoas em situação de extrema
pobreza. Isto representa 8,5 % da população do país, e de acordo com Márcio
Pochmann, presidente do IPEA, a taxa de miserabilidade atinge um em cada dez
brasileiros.
São
números que desabonam a imagem de nosso país em qualquer aspecto do desenvolvimento
humano. Entretanto o mais grotesco e chocante é que o Brasil brilha de modo
inquestionável no quesito do luxo e da ostentação. Através de uma avaliação
injusta e equivocada, pleiteamos e ganhamos o direito de sediar uma Copa do
Mundo de Futebol e uma Olimpíada. Esnobismo que será pago, mais uma vez, pelos pobres
dos pobres, como afirmava Madre Tereza de Calcutá, cujo trabalho em favor
dos fracos e oprimidos não só da India, como de várias partes
do mundo, nos faz envergonhados de nossa apatia, falta de ação e indignação ao
testemunhar um verdadeiro holocausto de nossos conterrâneos, desvalidos
da sorte.
O
descaso social nosso e de nossas autoridades torna os ricos, pobres. Pobres de segurança
e de alegria, transformando-os em verdadeiros indigentes da felicidade. Aprisionados
em seus lares (alguns até semelhantes a castelos medievais), esses senhores
sequer usufruem de seus bólidos de passeio por não disporem de rodovias
adequadas. Nos restaurantes, são assaltados na entrada e nos preços cobrados pelos
serviços prestados. E ainda necessitam de sorte e segurança pessoal para
retornarem às suas casamatas.
Essa
situação caótica faz parte da tradição brasileira, onde uma sociedade burguesa
e elitista padece de miopia cultural, cujos princípios éticos e morais
estão sempre opacos e distantes da realidade. No Brasil, o social sai com frequência nos
discursos, para descansar nas distribuições aleatórias de verbas segundo
critérios discutíveis. A imensa quantidade de ONG’s e de dinheiro gasto na área
social é significativa, mas a qualidade dessa gastança é quase nenhuma.
Creio
que só nos resta decidir se queremos conquistas socialmente menos
injustas. Ou se nos será suficiente a ilusão de concessões que, na realidade,
perpetuam a humilhação e a exploração da maioria pela manutenção de
costumes tão velhos quanto intocados.
Como dizia o saudoso Dom Helder Câmara, “quando
dou de comer aos pobres, chamam-me de santo; quando explico porque é que
os pobres tem fome, chamam-me de comunista”.
(Imagem: Flickr, do álbum de ana_lee_smith)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Grato pela sua visita e comentário.