julho 07, 2012

Crise cultural




Pode soar estranho aos ouvidos dos desatentos o título em questão. No entanto, é sobejamente sabido que nos últimos tempos nossa civilização adentrou no labirinto do conhecimento humano, de forma jamais vista em qualquer outra época. Navegamos em águas de todo o saber conhecido. Qualquer criança, com um simples toque, se conecta à aldeia global. Não existe mais fronteira para o saber. Através da internet podemos ter acesso a praticamente tudo o que foi disponibilizado pelo homem no tocante ao seu progresso cultural.

Entretanto continuamos a patinar no lodaçal do mediocridade, principalmente por uma batalha tola e desnecessária entre os partidários do politicamente correto e incorreto. Somos bombardeados cotidianamente por uma mídia sem escrúpulos, desprovida de qualquer valor humano e cultural. Através dos ditames do entretenimento, a verdadeira cultura é sempre deslocada de seus reais princípios e valores assumindo, de forma despudorada, o controle de nossas mentes – o que faz dela uma cultura de massa, estéril e alienante. A cultura popular – o folclore e todo acervo de sabedoria, um tesouro legado pelos nossos antepassados – é simplesmente lançado no lixo da História.

Hoje temos muita informação, mas assimilamos pouco conhecimento e praticamente não adquirimos sabedoria. O conhecimento atual é-nos apresentado de forma fragmentada, sem reflexão sobre seu conteúdo. O que confirma afirmação de Leon Tolstoi, segundo quem “os homens distinguem-se entre si também neste caso: alguns primeiro pensam, depois falam e em seguida agem; outros, ao contrário, primeiro falam, depois agem e, por fim, pensam”.

Atualmente, quando observamos a grande quantidade de faculdades e cursos oferecidos, somos tentados a acreditar que o homem está interessado em valorizar a instrução e a busca da verdade. Mas de forma inequívoca, aqui também as aparências enganam, pois professores mal pagos fazem do sagrado ato de ensinar um simples meio de sobrevivência. Alunos formam-se apenas em busca de status social e melhores condições de emprego. Vivenciamos a época das  especializações: mais valor tem quem é especializado, não importa em quê.

Segundo Schopenhauer, o especialista é um homem que mora em sua própria casa, nunca saindo dela. “Na casa, ele conhece tudo com exatidão, cada degrau, cada canto e cada viga, como, por exemplo, o Quasimodo de Victor Hugo conhece a catedral de Notre-Dame, mas fora desse lugar tudo lhe é estranho e desconhecido”.

A crise cultural de nossos dias pode ser retratada naqueles que sabem pouco, mas falam muito, e nos que sabem muito e falam pouco.

(Imagem: Flickr, do álbum de Vassilis Triantis)

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