Pode
soar estranho aos ouvidos dos desatentos o título em questão. No entanto, é
sobejamente sabido que nos últimos tempos nossa civilização adentrou no
labirinto do conhecimento humano, de forma jamais vista em qualquer outra
época. Navegamos em águas de todo o saber conhecido. Qualquer criança, com um
simples toque, se conecta à aldeia global. Não existe mais fronteira para o
saber. Através da internet podemos ter acesso a praticamente tudo o que foi
disponibilizado pelo homem no tocante ao seu progresso cultural.
Entretanto
continuamos a patinar no lodaçal do mediocridade, principalmente por uma
batalha tola e desnecessária entre os partidários do politicamente correto e
incorreto. Somos bombardeados cotidianamente por uma mídia sem escrúpulos,
desprovida de qualquer valor humano e cultural. Através dos ditames do
entretenimento, a verdadeira cultura é sempre deslocada de seus reais princípios
e valores assumindo, de forma despudorada, o controle de nossas mentes – o que
faz dela uma cultura de massa, estéril e alienante. A cultura popular – o folclore
e todo acervo de sabedoria, um tesouro legado pelos nossos antepassados – é simplesmente
lançado no lixo da História.
Hoje
temos muita informação, mas assimilamos pouco conhecimento e praticamente não
adquirimos sabedoria. O conhecimento atual é-nos apresentado de forma fragmentada,
sem reflexão sobre seu conteúdo. O que confirma afirmação de Leon Tolstoi,
segundo quem “os homens distinguem-se entre si também neste caso: alguns
primeiro pensam, depois falam e em seguida agem; outros, ao contrário, primeiro
falam, depois agem e, por fim, pensam”.
Atualmente,
quando observamos a grande quantidade de faculdades e cursos oferecidos, somos
tentados a acreditar que o homem está interessado em valorizar a instrução e a busca
da verdade. Mas de forma inequívoca, aqui também as aparências enganam, pois professores
mal pagos fazem do sagrado ato de ensinar um simples meio de sobrevivência.
Alunos formam-se apenas em busca de status social e melhores condições de
emprego. Vivenciamos a época das
especializações: mais valor tem quem é especializado, não importa em
quê.
Segundo
Schopenhauer, o especialista é um homem que mora em sua própria casa, nunca
saindo dela. “Na casa, ele conhece tudo com exatidão, cada degrau, cada canto e
cada viga, como, por exemplo, o Quasimodo de Victor Hugo conhece a catedral de
Notre-Dame, mas fora desse lugar tudo lhe é estranho e desconhecido”.
A
crise cultural de nossos dias pode ser retratada naqueles que sabem pouco, mas
falam muito, e nos que sabem muito e falam pouco.
(Imagem: Flickr, do álbum de Vassilis Triantis)
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