agosto 08, 2012

A imperfeição humana

Desde a mais tenra idade somos ensinados e doutrinados a sermos perfeitos. Não podemos falhar em nossas ações mais corriqueiras. Entretanto o gênio lusitano de Fernando Pessoa preconizou de forma contrária: “Adoramos a perfeição porque não a podemos ter. Repugná-la-íamos, se a tivéssemos O perfeito é desumano, porque o humano é imperfeito”.

A imperfeição é a causa da diversidade humana, e se a Humanidade fosse perfeita, certamente não haveria diferenças por excesso ou defeitos das pessoas. Dessa forma a vida seria monótona e tediosa. A noção da imperfeição faz com que eu me sinta um ser limitado, alcançando desta forma o entendimento. Isto, por seu lado, me levará a respeitar o ambiente que me cerca e os direitos do meu semelhante. Essa aceitação de nossa imperfeição, do nosso limite pessoal em relação aos limites dos outros, constitui valor ético-espiritual, além de requisito indispensável ao nosso crescimento.

Na lógica do raciocínio até aqui exposto, temos a considerar que a perfeição não pode existir no nível humano, mas no sobre-humano. A História está repleta de pessoas que lutaram e deram suas vidas em prol de uma perfeição que negava qualquer valor mundano. Os santos e os iluminados transcenderam as vaidades humanas. Abandonando o caminho que efetivamente o humaniza e procurando sempre a perfeição, o Homem perdeu sua visão peculiar das coisas. O ideal de perfeição aniquilou o verdadeiro humanismo, que nos leva a aceitar não só nossas fragilidades, mas também a de nossos irmãos.

O próprio impulso evangélico se desenvolveu através de uma cultura da perfeição. Nascido para vencer, mística do sucesso que respiramos em toda parte. Achamos que a vida deva ser perfeita e procuramos nos comportar com perfeição, procurando o inatingível “deveríamos ser”.

A expressão “atingir a perfeição” é uma imprudência. A procura da perfeição nos torna tolos, presunçosos, retira de nós a capacidade de amar, perdoar e até mesmo de viver, pois nos submete a um processo de automutilação. Com a perfeição sempre saímos derrotados.

O homem precisa reconhecer que a perfeição é algo estritamente divino, e que “ser humano é a verdadeira meta à qual se dirige nosso ser”'. Nietzsche escreveu: “Amo os homens que caem porque são os que passam”. E ainda: “É preciso ter dentro o caos para dar luz a uma estrela que dança”.

(Imagem: Flickr, do álbum de pescator)


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