A
história da Humanidade é um longo percurso do homem para o seu resgate da
condenação bíblica e mítica do trabalho como fadiga. Na sociedade
pós-industrial, a cultura prevalece sobre a natureza. Serenamente, sem
complexos de culpa, o homem pode finalmente delegar às máquinas não só o
esforço físico, mas também a parte mais tediosa do trabalho intelectual.
Por
vários motivos o mundo do trabalho está se transformando, e nele o trabalhador
encontra, de uma só vez, a possibilidade de debelar a fadiga e a tradição de
autoritarismo patronal. Segundo Heráclito, “é na mudança que as coisas repousam”.
De
forma surpreendente, o século que mudou radicalmente a face da Humanidade – o
vigésimo da Era Cristã – viu duas guerras mundiais e, também, cidades encherem-se
de fábricas, ruas, escolas e casas. “Escamoteou-se a vida”, na visão Flaubert,
produzindo e consumindo com vigor, apesar de períodos cinzentos. Mais cem anos
de peregrinação do ser humano chegam ao fim, trazendo desta vez o desemprego
dentre as conquistas nada honrosas colhidas pelo caminho.
Está
lá no Antigo Testamento, profetizado por Moisés em Deuteronômio, capítulo 28,
versículo 68: “E ali (no Egito), quando vós vos venderdes aos vossos inimigos como
escravos e escravas, não haverá ninguém que vos compre”. Mas houve e haverá
sempre gente disposta a trabalhar sem trégua apenas para sobreviver.
Em
tempos de informática e informação à vontade, o homem, senhor da informática,
agente e consumidor voraz da informação, vai perdendo terreno para toda a sorte
de máquinas. Se poupa energia física para o trabalho, gasta-a e desgasta-se
para se manter empregado, comprometendo com isto a qualidade de vida no lar e
no lazer. O moderno guerreiro está exausto. É preciso encontrar caminhos que o
distanciem da profecia bíblica.
Em
analogia à afirmativa de Maquiavel, será necessário dividir para incluir. A diminuição
da jornada de trabalho, hoje tão necessária, é exigida há longo tempo. “Tanto
pior se o povo não tem tempo senão para ganhar seu pão”, escrevia o filosofo
francês Jean-Jacques Rousseau a D’Alembert. “Este Deus justo e benéfico que
quer que o povo esteja ocupado, quer também que ele descanse: a natureza
impõe-lhe igualmente o exercício e o repouso, o prazer e a dor. O tédio do
trabalho acabrunha mais os infelizes que o próprio trabalho”.
O trabalho é o amor que se pode ver. “È semear
com doçura e fazer a colheita com alegria, como se seu amado fosse comer o
fruto” (Kahlil Gibran).
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