agosto 18, 2012

A transformação do trabalho humano



A história da Humanidade é um longo percurso do homem para o seu resgate da condenação bíblica e mítica do trabalho como fadiga. Na sociedade pós-industrial, a cultura prevalece sobre a natureza. Serenamente, sem complexos de culpa, o homem pode finalmente delegar às máquinas não só o esforço físico, mas também a parte mais tediosa do trabalho intelectual.

Por vários motivos o mundo do trabalho está se transformando, e nele o trabalhador encontra, de uma só vez, a possibilidade de debelar a fadiga e a tradição de autoritarismo patronal. Segundo Heráclito, “é na mudança que as coisas repousam”.

De forma surpreendente, o século que mudou radicalmente a face da Humanidade – o vigésimo da Era Cristã – viu duas guerras mundiais e, também, cidades encherem-se de fábricas, ruas, escolas e casas. “Escamoteou-se a vida”, na visão Flaubert, produzindo e consumindo com vigor, apesar de períodos cinzentos. Mais cem anos de peregrinação do ser humano chegam ao fim, trazendo desta vez o desemprego dentre as conquistas nada honrosas colhidas pelo caminho.

Está lá no Antigo Testamento, profetizado por Moisés em Deuteronômio, capítulo 28, versículo 68: “E ali (no Egito), quando vós vos venderdes aos vossos inimigos como escravos e escravas, não haverá ninguém que vos compre”. Mas houve e haverá sempre gente disposta a trabalhar sem trégua apenas para sobreviver.

Em tempos de informática e informação à vontade, o homem, senhor da informática, agente e consumidor voraz da informação, vai perdendo terreno para toda a sorte de máquinas. Se poupa energia física para o trabalho, gasta-a e desgasta-se para se manter empregado, comprometendo com isto a qualidade de vida no lar e no lazer. O moderno guerreiro está exausto. É preciso encontrar caminhos que o distanciem da profecia bíblica.

Em analogia à afirmativa de Maquiavel, será necessário dividir para incluir. A diminuição da jornada de trabalho, hoje tão necessária, é  exigida há longo tempo. “Tanto pior se o povo não tem tempo senão para ganhar seu pão”, escrevia o filosofo francês Jean-Jacques Rousseau a D’Alembert. “Este Deus justo e benéfico que quer que o povo esteja ocupado, quer também que ele descanse: a natureza impõe-lhe igualmente o exercício e o repouso, o prazer e a dor. O tédio do trabalho acabrunha mais os infelizes que o próprio trabalho”. 

O trabalho é o amor que se pode ver. “È semear com doçura e fazer a colheita com alegria, como se seu amado fosse comer o fruto” (Kahlil Gibran).

(Imagem: Flickr, do álbum de ZAYAN.1904)

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