dezembro 15, 2012

Inquilinos de Deus



Não é necessário esforço intelectual para se chegar à triste constatação de que o ser humano desconhece a si próprio. De modo equivocado, julga a si e a seu semelhante de forma comparativa, incidindo em erro grosseiro ao considerar-se sempre superior ou inferior a alguém. Produz, assim, seu próprio sofrimento – seja como sujeito ativo, sob condição de soberba, ganância e egocentrismo; seja passivamente, na de humilhação e mediocridade.

Na esteira desse argumento, encontramos o sábio ensinamento de William Hazlitt, para quem “o homem é o único animal que ri e chora, porque se impressiona com a diferença que há entre o que é o que deveria ser”. Julgamo-nos acima do que somos, estimando-nos menos do que realmente valemos.

Palavras duras e verdadeiras de Plínio: “Nada tão miserável, nem tão soberbo como o homem”. Mais do que nunca, precisamos nos autolibertar e autoconhecer. O paradoxo da criação humana contém enigmas insondáveis. Somos criados como escultura divina e única, feita de matéria-prima ímpar – a alma.

O corpo é a forma ou o acabamento da obra. Algumas esculturas são grandes, outras pequenas. Sua beleza é avaliada apenas pelo seu aspecto estético, pois o valor real só é conhecido pelo Criador. Angústias, dores e infortúnios se comparam a processos de limpeza e polimento dessas esculturas – uma verdadeira restauração da  alma.

Não existe diferença na fragilidade humana. Mendigo ou príncipe, o ser humano possui virtudes e defeitos. Nada temos e nada somos, e tudo nos é cedido por  prazo determinado. A existência nos cobra pesado ônus. Na verdade, não passamos de humildes peregrinos em efêmera caminhada em busca dos umbrais da eternidade. 

Somos, sim , os “inquilinos de Deus”.

(Imagem: Flickr, do álbum de DHamp1)

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