Não é necessário esforço intelectual para se chegar à triste
constatação de que o ser humano desconhece a si próprio. De modo equivocado,
julga a si e a seu semelhante de forma comparativa, incidindo em erro grosseiro
ao considerar-se sempre superior ou inferior a alguém. Produz, assim, seu
próprio sofrimento – seja como sujeito ativo, sob condição de soberba, ganância
e egocentrismo; seja passivamente, na de humilhação e mediocridade.
Na esteira desse argumento, encontramos o sábio ensinamento
de William Hazlitt, para quem “o homem é o único animal que ri e chora, porque
se impressiona com a diferença que há entre o que é o que deveria ser”. Julgamo-nos
acima do que somos, estimando-nos menos do que realmente valemos.
Palavras duras e verdadeiras de Plínio: “Nada tão miserável,
nem tão soberbo como o homem”. Mais do que nunca, precisamos nos autolibertar e
autoconhecer. O paradoxo da criação humana contém enigmas insondáveis. Somos
criados como escultura divina e única, feita de matéria-prima ímpar – a alma.
O corpo é a forma ou o acabamento da obra. Algumas
esculturas são grandes, outras pequenas. Sua beleza é avaliada apenas pelo seu
aspecto estético, pois o valor real só é conhecido pelo Criador. Angústias,
dores e infortúnios se comparam a processos de limpeza e polimento dessas
esculturas – uma verdadeira restauração da alma.
Não existe diferença na fragilidade humana. Mendigo ou
príncipe, o ser humano possui virtudes e defeitos. Nada temos e nada somos, e tudo
nos é cedido por prazo determinado. A existência nos cobra pesado ônus. Na
verdade, não passamos de humildes peregrinos em efêmera caminhada em busca dos
umbrais da eternidade.
Somos, sim , os “inquilinos
de Deus”.
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