setembro 23, 2012

A ilusão da verdade



Para muitos, a verdade seria a real percepção das coisas e dos fatos. Entretanto, a percepção é falha, etérea, fugaz e fugidia. Fragmenta-se no vazio, tornando-se o nada. O sim transforma-se em não. A verdade é aniquilada pela noção primitiva do falso. Através da magia que envolve as considerações filosóficas de Nietzsche, teceremos algumas reflexões sobre a ilusão que cobre o verdadeiro sentido da verdade.

O imortal autor de “O Anticristo” afirmava que a verdade era apenas um exército móvel de metáforas, onde “as verdades são ilusões que foram esquecidas”. Ressaltava ainda que a verdade seria um mero ponto de vista. Para nosso festejado Caetano Veloso, “a verdade é seu dom de iludir”.

A realidade morre a cada instante. O é já foi, e agora apenas era. O presente é praticamente imperceptível. O passado não mais existe, restando-nos o consolo da ilusão futura. A ilusão torna a existência humana possível. A verdade acaba quando nos desiludimos. Herbert Marcuse, de forma estranha, afirmava que aquilo que é não pode ser verdade. Mas os espectros ilusórios dos fatos estão presentes na sua assertiva. Ele acreditava, por exemplo, que o sistema político, apesar de real, não poderia ser considerado racional, pois contrariaria a lógica da verdade racional.

Vivemos e convivemos com a ilusão da verdade. Possuimos uma vaidade pessoal incontrolável, talvez devido ao fato de que não conhecemos e jamais vamos conhecer nossa própria face. O que enxergamos é nossa imagem distorcida e refletida nos espelhos. Nossa própria voz também nos passa despercebida em qualquer tipo de gravação. A ilusão de nossa beleza física fica por conta de nossa imaginação fantasiosa, presente no ego dominador da mente humana.

A prova da ilusão da verdade está na crença do livre-arbítrio e na auto-determinação dos povos. Mas isto é apenas uma quimera. Nossa liberdade individual e coletiva depende das corporações econômicas, das religiões e da mente insana da maioria de nossos governantes. Tal realidade foi descrita por Jean-Jaques Rousseau, que preconizou: “O homem nasce livre e por toda parte encontra-se acorrentado”.

A verdade deixará de ser apenas crença quando os seus princípios forem úteis à natureza e à fauna humana.

(Imagem: Flickr, do álbum de ecstaticist)

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