Para
muitos, a verdade seria a real percepção das coisas e dos fatos. Entretanto, a
percepção é falha, etérea, fugaz e fugidia. Fragmenta-se no vazio, tornando-se
o nada. O sim transforma-se em não. A verdade é aniquilada pela noção primitiva
do falso. Através da magia que envolve as considerações filosóficas de Nietzsche,
teceremos algumas reflexões sobre a ilusão que cobre o verdadeiro sentido da
verdade.
O
imortal autor de “O Anticristo” afirmava que a verdade era apenas um exército
móvel de metáforas, onde “as verdades são ilusões que foram esquecidas”. Ressaltava
ainda que a verdade seria um mero ponto de vista. Para nosso festejado Caetano
Veloso, “a verdade é seu dom de iludir”.
A
realidade morre a cada instante. O é já
foi, e agora apenas era. O presente é
praticamente imperceptível. O passado não mais existe, restando-nos o consolo
da ilusão futura. A ilusão torna a existência humana possível. A verdade acaba
quando nos desiludimos. Herbert Marcuse, de forma estranha, afirmava que aquilo
que é não pode ser verdade. Mas os espectros ilusórios dos fatos estão
presentes na sua assertiva. Ele acreditava, por exemplo, que o sistema político,
apesar de real, não poderia ser considerado racional, pois contrariaria a
lógica da verdade racional.
Vivemos
e convivemos com a ilusão da verdade. Possuimos uma vaidade pessoal incontrolável,
talvez devido ao fato de que não conhecemos e jamais vamos conhecer nossa própria
face. O que enxergamos é nossa imagem distorcida e refletida nos espelhos. Nossa
própria voz também nos passa despercebida em qualquer tipo de gravação. A
ilusão de nossa beleza física fica por conta de nossa imaginação fantasiosa, presente
no ego dominador da mente humana.
A
prova da ilusão da verdade está na crença do livre-arbítrio e
na auto-determinação dos povos. Mas isto é apenas uma quimera. Nossa
liberdade individual e coletiva depende das corporações econômicas, das
religiões e da mente insana da maioria de nossos governantes. Tal realidade foi
descrita por Jean-Jaques Rousseau, que preconizou: “O homem nasce livre e por
toda parte encontra-se acorrentado”.
A
verdade deixará de ser apenas crença quando os seus princípios forem úteis à natureza
e à fauna humana.
(Imagem: Flickr, do álbum de ecstaticist)
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