O
inesquecível Renato Russo cantou que o mal do século é a solidão. Solidão não apenas
de estar só, mas principalmente de estar só na multidão. Solidão que acentua
nossa miopia moral, intelectual e espiritual. Não mais conseguimos enxergar o
outro, a natureza, tampouco a nós mesmos. Prisioneiros de nossos destinos e do próprio
agora, vivemos perdidos nos labirintos das incertezas e das desilusões. A inútil
competitividade por valores desnecessários à nossa felicidade, nos torna fracos
e doentes de corpo e alma.
O
egoísmo e o medo são guardiões zelosos da masmorra de nosso inconsciente. Em
nossa angústia cotidiana, procuramos a todo instante Deus e felicidade. Podemos
afirmar que essa busca será sempre frustrante e estéril, porquanto Deus e a
felicidade habitam em nós, e só nos daremos conta disso no momento em que
vivermos uma vida plena, onde possamos enxergar ao invés de apenas ver; onde se
possa dar e não apenas receber; onde se possa amar e não apenas ganhar.
Precisamos
participar do humor e da beleza presentes em tudo na natureza. Porque nós, seres
humanos, nos relacionamos com esse fenômeno bastante elementar ao passar algum
tempo no mundo natural, admirando o fluxo da vida na natureza. Aprendendo dessa
forma como as coisas são, o fundamento do próprio Universo, de nossa existência
e de tudo o mais. Aprendemos que o pássaro canta não porque é feliz, mas é
feliz porque canta.
Para
escaparmos da solidão precisamos curar o mundo. Mas se queremos curar o mundo,
diz o monge zen Thich Nhat Hanh, devemos
curar a nós mesmos. Já se disse que se não alterarmos a rota, chegaremos sempre
aos mesmos lugares. Por isso precisamos exercer nosso poder de auto-expressão. Todo
mundo é capaz de tudo, todo ser humano é re-criativo, sim, capaz de re-criar
tudo que existe no Universo, transformando a criação divina em re-criação
humana.
De
uma pedra fria, de um mármore, Michelãngelo fazia esculturas verdadeiramente geniais.
O sofrimento se torna mais suportável quando o expressamos através da arte. E
todos nós somos artistas, cantores, escritores, poetas etc. Podemos não ser os
melhores em tudo, mas podemos fazer tudo de melhor. Pois como afirmou Saul
Bellow “mesmo no meio da maior confusão há ainda um canal aberto para a alma se
expressar. Talvez seja difícil achá-lo porque ele pode estar encoberto... Mas o
canal está sempre ali, e é preciso mantê-lo aberto para termos acesso à parte
mais profunda de nós mesmos”.
(Imagem: Flickr, do álbum de Rizando el rizo)
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