junho 03, 2012

Só na multidão



 O inesquecível Renato Russo cantou que o mal do século é a solidão. Solidão não apenas de estar só, mas principalmente de estar só na multidão. Solidão que acentua nossa miopia moral, intelectual e espiritual. Não mais conseguimos enxergar o outro, a natureza, tampouco a nós mesmos. Prisioneiros de nossos destinos e do próprio agora, vivemos perdidos nos labirintos das incertezas e das desilusões. A inútil competitividade por valores desnecessários à nossa felicidade, nos torna fracos e doentes de corpo e alma.

O egoísmo e o medo são guardiões zelosos da masmorra de nosso inconsciente. Em nossa angústia cotidiana, procuramos a todo instante Deus e felicidade. Podemos afirmar que essa busca será sempre frustrante e estéril, porquanto Deus e a felicidade habitam em nós, e só nos daremos conta disso no momento em que vivermos uma vida plena, onde possamos enxergar ao invés de apenas ver; onde se possa dar e não apenas receber; onde se possa amar e não apenas ganhar.

Precisamos participar do humor e da beleza presentes em tudo na natureza. Porque nós, seres humanos, nos relacionamos com esse fenômeno bastante elementar ao passar algum tempo no mundo natural, admirando o fluxo da vida na natureza. Aprendendo dessa forma como as coisas são, o fundamento do próprio Universo, de nossa existência e de tudo o mais. Aprendemos que o pássaro canta não porque é feliz, mas é feliz porque canta.

Para escaparmos da solidão precisamos curar o mundo. Mas se queremos curar o mundo, diz  o monge zen Thich Nhat Hanh, devemos curar a nós mesmos. Já se disse que se não alterarmos a rota, chegaremos sempre aos mesmos lugares. Por isso precisamos exercer nosso poder de auto-expressão. Todo mundo é capaz de tudo, todo ser humano é re-criativo, sim, capaz de re-criar tudo que existe no Universo, transformando a criação divina em re-criação humana.

De uma pedra fria, de um mármore, Michelãngelo fazia esculturas verdadeiramente geniais. O sofrimento se torna mais suportável quando o expressamos através da arte. E todos nós somos artistas, cantores, escritores, poetas etc. Podemos não ser os melhores em tudo, mas podemos fazer tudo de melhor. Pois como afirmou Saul Bellow “mesmo no meio da maior confusão há ainda um canal aberto para a alma se expressar. Talvez seja difícil achá-lo porque ele pode estar encoberto... Mas o canal está sempre ali, e é preciso mantê-lo aberto para termos acesso à parte mais profunda de nós mesmos”.

(Imagem: Flickr, do álbum de Rizando el rizo)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Grato pela sua visita e comentário.